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Incontinência urinária feminina é comum, mas tem tratamento.


A perda da capacidade de controlar a eliminação de urina é condição que pode afetar até 50% das mulheres em alguma fase da vida. Tal incidência quando somada ao fator envelhecimento aumenta para aproximadamente 60%. 

Percebe-se, dessa forma, que a incontinência urinária feminina é tão comum que ouso a dizer que todos nós comecemos pelo menos uma mulher que perde urina, pode ser que alguns não tenham conhecimento disso. 

Há um mito na sociedade de que envelhecer está fatalmente relacionado a perder o "controle da situação", tornar-se incapaz, dependente e sem qualidade de vida. Talvez por isso muitas mulheres perdem urina e se quer procuram tratamento, acreditando que é "normal". Outras ao contrário não procuram tratamento por vergonha ou constrangimento, pensando serem as únicas a sofrerem com o problema.

Honestamente não sei o que é pior, ou melhor, sei, os dois pensamentos são péssimos, pois induzem as mulheres a conviverem com a situação mesmo com um impacto indiscutível na qualidade de vida. E o que é pior, ambos os pensamentos ainda são comuns, principalmente entre a parcela mais pobre da população por terem menor acesso à informação e às opções de tratamento.

Agora que já sabemos que é comum vamos aprender a identificar a incontinência urinária. Existem três tipos de incontinência urinária: Incontinência urinária de esforço, incontinência urinária de urgência e incontinência urinária mista (urge-incontinência).

Incontinência urinária de esforço: São perdas involuntárias de urina em momentos de aumento da pressão intra-abdominal, ou seja, durante um "esforço". Por exemplo: ao agachar, pegar peso, tossir, espirrar, mudar de posição, caminhar.

Incontinência urinária de urgência: é a necessidade de esvaziar a bexiga rapidamente na presença do desejo de urinar. Caracteriza a mulher se não ir no banheiro rápido tem escapes de urina.

Incontinência urinária mista: além do sintoma de urgência está presente a incontinência. Caracteriza a mulher que não consegue chegar ao banheiro sem ter escapes de urina, ou nos casos mais graves esvaziamento da bexiga.

Muitos são os fatores que podem ser determinantes no quadro clínico de incontinência urinária, dentre eles: comprometimento do assoalho pélvico e esfíncteres, doenças que comprometem a bexiga, gestação/parto, obesidade, tosse crônica (fumante), procedimentos cirúrgicos que lesem a musculatura ou sua inervação.  

As opções terapêuticas para o tratamento da incontinência urinária incluem tratamento medicamentoso, fisioterapêutico ou cirúrgico. É importante que a mulher converse com o seu médico sobre o problema para que este a oriente sobre a melhor terapêutica para ela. A opinião de um fisioterapeuta que trabalhe com saúde da mulher também é muito válida, uma vez que este profissional poderá avaliar as qualidades da musculatura pélvica, detectando falhas de propriocepção, força, consciência, sensiblidade, resistência e avaliar se a fisioterapia terá bons resultados, o que pode evitar um procedimento cirúrgico.

A imagem abaixo nos permite compreender a importância de se ter um assoalho pélvico treinado e sadio para um bom controle urinário.


A musculatura transversal a uretra é o assoalho pélvico que ao se contrair fecha o canal da uretra impedindo a saída de urina. Enquanto que um bom esvaziamento vesical depende de seu relaxamento, mecanismo que requer também uma boa consciência perineal.

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